PSICOLOGIA MÉDICA

CCBS CAMPUS II

PROFESSORA:MARILITA LUCIA CALHEIROS DE CASTRO

Material didático

A GENESE DA PERSONALIDADE. O INATO E O ADQUIRIDO

IV - A criança que nasce já tem uma história

O nascimento pode ser considerado como o protótipo da separação mas não assegura a individuação pois a criança necessita intensamente das pessoas de seu meio para poder continuar vivendo.

Todos sabem que a história de uma criança começa muito cedo quando ela ainda está no ventre de sua mãe. Sabemos que ela é sensível as influencias externas e particularmente ao estado físico e mental de sua mãe. Entretanto, é difícil acreditar que essa historia começa muito mais cedo, na infância dos pais do bebe!

A psicanálise descobriu que toda criança é herdeira da historia do filho imaginário de seus pais. As primeiras fantasias em relação ao filho que se deseja Ter são feitas na infância, onde o brincar de bonecas é apenas uma de suas manifestações. O filho imaginário é uma espécie de condensado dos diferentes desejos dos pais quando crianças, dos traços de suas relações com seus próprios pais, do modo como estes os esperaram e criaram e dos sentimentos despertados pelos irmãos, sobretudo, os que nasceram depois. Naturalmente, essa historia imaginaria vai sofrendo modificações  à medida que nossa própria historia vai mudando.

O FILHO IMAGINÁRIO SERÁ MARCADO, PORTANTO:

1 - Pelo selo da repetição das relações dos pais com seus próprios pais.

Cada filho, desde antes do nascimento, é investido de forma específica pelos genitores. Este  investimento nunca é igual, sendo influenciado pela ordem do nascimento. Por exemplo: o filho que ocupa o mesmo lugar da mãe entre os irmãos será investido por ela de forma diferente de outro que ocupa a posição de um irmão muito amado ou, pelo contrário, do qual ela teve ciúmes.

As pesquisas indicam que há uma tendência em repetir com o filho a mesma historia que se teve com os pais ou, ao revés, fazer tudo de forma diferente. A escolha do nome da criança também é muito significativa, dando uma ideia do que ela representa para seus pais e do que estes esperam dela.

2 - Pelo caráter freqüentemente conflitivo do investimento de que é objeto.

Muitas vezes, conflitos não resolvidos com os pais, em sua maioria inconscientes, vão ressurgir no relacionamento com os filhos quando nos tornamos pais. O desejo de educa-los melhor ou de forma distinta, mostra que é ainda a nossos pais que nos dirigimos. Veremos , ao estudar o Édipo, que toda criança passa pela fase de desejar um filho do genitor de sexo oposto para rivalizar com o do mesmo sexo. Dificuldades na resolução do complexo de Édipo podem levar o sujeito a Ter dificuldades em relacionar-se com os filhos, em aceitar colocar-se na posição de pai ou mãe. Isso pode se expressar através de condutas variadas, das quais os abortos sucessivos e o distanciamento dos filhos, constituem exemplos.

O que acontece após o nascimento, na confrontação do filho imaginário com o real?

A distancia entre o sonho e a realidade pode ser difícil de suportar. A aparência física (lembra a minha família...), o sexo, são alguns dos elementos da realidade que confirmam ou anulam as fantasias construídas a respeito dos filhos.

Um estudo realizado por I. Lezine et al. Sobre a inter-relação mãe bebê durante a amamentação na primeira semana de vida, evidenciou importantes diferenças no comportamento das mães, segundo o sexo e a ordem de nascimento da criança. Observou-se que a má adaptação ao ritmo da criança é freqüentemente mais comum quando se trata de meninas do que de meninos, e ainda mais freqüente, quando se trata do primeiro filho.

Tais estudos mostram que não há no ser humano um modelo inato de maternagem como acontece entre os animais. Mostram ainda a fragilidade emocional das mães durante os primeiros dias que se sucedem a9o parto e a importância da equipe terapêutica nesses casos. É preciso ter cuidado para que nenhuma palavra dita inadvertidamente, na enfermaria ou na sala de parto, sobre as condições da mãe ou da criança, possa entrar em consonância com as fantasias e conflitos da primeira.

Os dois primeiros anos do bebê são dominados por um estado de dependência maior dos demais, notadamente da mãe. É a época da maternagem e a criança necessita de um personagem fixo que se encarregue dela, não necessariamente A MÃE BIOLOGICA. Em nossa sociedade é a mãe, a mulher, quem esta em melhor condição de ocupar tal função. Nessa ocasião, o papel do pai é apenas o de um nutridor, um doublé da mãe. Sua importância neste período refere-se ao equilíbrio emocional que ele deve proporcionar a sua mulher, ao lugar que ocupa nos interesses afetivos dela para que esta não sobrecarregue a criança com um excesso de investimento.

Para Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, a mãe é nessa fase a responsável pelo sentimento de continuidade do bebê. Nos primeiros meses, a criança, face a sua imaturidade neurológica e psicológica é um amontoado de sensações e necessita de alguém que lhe transmita esse sentimento de continuidade. Alguém que decodifique todas essas sensações. A mãe substitui as funções deficitárias do bebê mas deve saber faze-lo, nem demais, nem tão pouco.

Nesta fase a criança ainda não pode fazer distinção entre seu corpo e o de sua mãe. Ela o completa e serve de mediadora na sua relação com o mundo. Exterior. É justamente essa atitude que dará ao bebê o sentimento de confiança e segurança. A mãe deverá saber atender às necessidades de seu filho no momento certo. Isso não deve ser feito rápido demais para que ele possa experimentar tais necessidades como suas. O que não aconteceria se elas fossem sistematicamente adivinhadas.

Por outro lado, demorar muito em satisfazer as necessidades levará o beb6e a vivenciar de forma cruel seu desespero e impotência., fazendo com que desenvolva um sentimento de insegurança frente ao mundo. A medida que vai adquirindo uma maior maturidade, a mãe deve proporcionar a seu filho uma independência cada vez maior, o que é conseguido através de suas ausências. A própria criança  encarregar-se-á de arranjar um substituto, obtendo prazer dessa experiência. Esse prazer associado a segurança que a mãe já lhe havia dado antes, fará com que a criança antecipe a satisfação futura (a volta da mãe), adquirindo assim, a capacidade de postergar a satisfação de suas necessidades e esperar.

As ausências devem ser progressivas, seguindo a capacidade da criança de compensar sua fraqueza através do acesso a uma atividade mental e a uma compreensão que lhe permitirá suportar a consciência de sua dependência. A ilusão de completude anterior começa a se desfazer. Mas essa desilusão não deve ser brutal sob pena de romper bruscamente o sentimento de continuidade da criança, ameaçando a organização de seu eu (ego). Se isso acontece ela poderá tornar-se outra vez dependente do meio exibindo patologias como as descritas por Spitz e  Anna Freud.

Uma ruptura precoce da relação mãe bebê pode poderá levar a alterações das funções do eu que conduziriam às psicoses ou uma cisão entre o desenvolvimento mental e o somático, criando a base para os distúrbios psicossomáticos. Uma ruptura mais tardia, imediata a um período favorável, levará a uma busca reiterada de satisfação das necessidades ligadas àquela época. O resultado poderá ser uma tendência anti-social, incluindo comportamentos como a mentira, o roubo compulsivo, a delinqüência, a toxicomania ou certos distúrbios da conduta alimentar.

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