PSICOLOGIA MÉDICA

CCBS CAMPUS II

PROFESSORA:MARILITA LUCIA CALHEIROS DE CASTRO

Material didático

HISTERIA

 

II - Uma história singular: papiros egípcios, textos hipocráticos, tratados de demonologia, a psicanálise

A histeria sempre existiu, acompanha o homem desde sua humanização, ela surge com a constituição do Inconsciente que é paralela à instituição da civilização, entendida aqui como um conjunto de regras regidas por uma ética e de uma série de codificações que permitem ao ser afastar-se cada vez mais da natureza, de suas raízes biológicas para ingressar no mundo simbólico do especificamente humano.

Descrições de quadros de histeria são encontrados nos papiros egípcios que datam de 4 mil anos. Mas avancemos rapidamente até Hipócrates. Para ele tais distúrbios, encontrados em sua maioria no sexo feminino, estavam ligados às migrações uterinas. O útero (do latim histera= útero), frustrado com a continência sexual de sua proprietária, desloca-se no corpo, para chegar ao cérebro, onde finalmente se alimentaria da substância branca, substituto do esperma. Tudo isso em meio a calores, febres, vapores, crises, gritos e sussurros.

Os Murias, antigo povo indígena, tinham uma lenda que falava que durante a noite, as “vaginas dentadas” das mulheres abandonariam seus corpos para ir roer as colheitas.

Qual a relação entre essa lenda indígena e o texto hipocrático? Ora ambos falam da mesma coisa,  falam que os órgãos femininos são devoradores e ambos são fantasias masculinas. Essa última constatação nos leva a pensar que tais fantasias traduzem o medo e o rancor dos homens frente a histeria em particular, para melhor dissimular esses mesmos re/sentimentos em relação à mulher em geral.

Um outro salto no tempo e estamos no final da Idade média, em plena era da Inquisição. As histéricas, essas bruxas horripilantes que curavam com poções mágicas, copulavam e faziam pactos com o demônio, deixavam-se possuir por este, entravam em transe e como castigo eram condenadas à fogueira. Curiosamente, a mesma Inquisição que perseguiu as histéricas, perseguiu também aos judeus, por seguidores que eram de uma religião distinta ao cristianismo. Não sabiam, judeu e histérica que ao final do século XIX firmariam um pacto para finalmente desvelar os mistérios de tão singular quadro psicopatológico. Nos referimos aqui ao judeu Sigmund Freud e às suas pacientes histéricas que juntos inventaram a ciência do Inconsciente, ou seja, a psicanálise.

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