CCBS CAMPUS II
PROFESSORA:MARILITA LUCIA CALHEIROS DE CASTRO
Material didático
HISTERIA
III - Os sintomas: expressão da neurose histérica
Em termos históricos valeria a pena falar das crises descritas por Charcot no século passado na Salpêtrière. Ali elas se caracterizavam por:
1) Período epileptóide
2) Fase dos grandes movimentos, saudações e opistótono.
3) Atitudes passionais onde cenas eram representadas.
4) Delírio terminal. Nesta fase a paciente falava sobre os fatos que marcaram sua vida. Às vezes revelavam seus mais íntimos segredos e comunicavam seus projetos mais ocultos.
Ao final das crises poderiam aparecer secreções abundantes: urina, saliva, muco vaginal.
Hoje em dia tais ataques aparatosos são raros, restam as “ crises de nervos”: estados de agitação ou cólera, às vezes acompanhados de lipotimia que ocorrem após contrariedades, ainda que mínimas.
Outros sintomas são: crises de catalepsia, crises de letargia – sono ou comas histéricos – formas de “estados segundos”. Tais estados consistem em mudanças de personalidade. Diferentes personalidades são apresentadas ao público, uma ignorando a existência da outra. Às vezes ocorrem “fugas amnésicas”, no curso das quais a paciente passa a viver uma vida coerente, em outra localidade, mas completamente diferente de sua vida cotidiana. Esses estados são mais freqüentes na literatura e nos filmes do que nos consultórios de psiquiatras e analistas. Um exemplo deste tipo encontra-se no último “best-seller” de Sidney Sheldom, “Conte-me seus sonhos”.
As crises conversivas. Aqui os sintomas aparecem sob a forma de perda da função de um ou de vários órgãos da vida de relação ( musculatura estriada e órgãos sensoriais) provocando paralisias, anestesias, afonias, cegueira, astasia-abasia, crises convulsiformes, contraturas, desmaios, etc. Todos esses sintomas são reversíveis e não obedecem à realidade sensitivo-motora mas à representação que o sujeito tem de seu corpo e de seu funcionamento. Assim podemos observar uma perda total da visão em paciente histérico, sem que o reflexo foto-motor se encontre alterado. Vale acrescentar que não se trata de simulação, os sintomas simbolizam a nível corporal, um conflito inconsciente.
Valeria a pena, agora, tentar fazer uma diferenciação entre o sintoma conversivo e o sintoma psicossomático, bem como ter sempre em mente que estas manifestações também podem ocorrer em pacientes histéricos. Inicialmente, gostaríamos de fazer uma digressão e voltar aos primeiros escritos de Freud, onde ele fala da representação e do afeto. Assim, quando vivenciamos algum acontecimento, nossa percepção dos objetos vem sempre acompanhada de um afeto que lhe corresponde. Posteriormente, a evocação do ocorrido em nossa memória (representação) virá sempre acrescida do afeto que lhe foi peculiar. Na conversão, a representação, penosa ou desagradável é recalcada para o inconsciente e seu afeto é deslocado para uma zona do corpo, geralmente implicada na cena traumática, convertendo-se em sintoma. Como aconteceu no exemplo da paciente que chega torta (contratura) ao consultório do psiquiatra após ter participado com o namorado de alguns jogos sexuais, situação que entrava em choque com seus valores morais. Um outro dado importante é que não há lesão orgânica embora sempre exista uma queixa de sofrimento corporal. Da mesma forma, a suposta “lesão” ou perda de função independe da anatomia real do corpo, como vimos na cegueira histérica. A outra diferença se refere aos órgãos implicados quando de fenômeno conversivo se trata. No sintoma psicossomático o sistema nervoso autônomo e os órgãos mais profundos é que seriam atingidos. Aqui o afeto seria suprimido devido a uma dificuldade para reconhecer e verbalizar os sentimentos e as emoções (alextimia). Nos enfermos psicossomáticos o pensamento ‘funciona de forma operatória’, ou seja, está fixado no concreto, limitando a capacidade de representação e de atividade fantasmática. São pessoas que pouco sonham e, quando o fazem, apresentam sonhos realistas, que apenas repetem suas atividades diárias. Como exemplo teríamos uma pessoa que sempre que se vê diante de um desafio existencial que ameace seu equilíbrio, desenvolve uma crise ulcerosa. Ao exame poderíamos constatar uma enorme dificuldade para falar sobre e para identificar os próprios sentimentos. Outro dado é que na somatização há modificações anatomopatológicas e sinais clínicos objetiváveis.
Um dado curioso é que a cultura joga um papel importante no aparecimento e forma dos sintomas. O histérico é muito sensível a sugestão voluntária e involuntária, a indução psíquica e ao contágio mental. O fenômeno do “benefício secundário”, observado em todas as neuroses, é particularmente notável na histeria. Portanto podemos concluir que um meio cultural impregnado de superstições, crenças mágicas e primitivas, muito influenciável e de fácil comunicação interpessoal, será especialmente propício à proliferação da histeria. Pelo contrário, a medida que aumenta o nível cultural e em conseqüência, a crítica e a resistência a sugestão e às diversas influencias, optando-se por uma atitude racional, diminuem os casos de histeria mas aumentam os distúrbios psicossomáticos.
Um sintoma ainda hoje importante é o famoso “bolo histérico”. O doente sente um bolo que sobe do epigástro até a garganta e ali se detém fechando a garganta e produzindo a sensação de estrangulamento e constricção. Tais sensações ocorrem durante grandes emoções ou diante de algo que desperte medo. Pode acontecer fora da histeria e é comum em atores, antes do espetáculo, e em candidatos a concursos e exames.
Tal ocorrência no âmbito do normal nos leva a indagar: “A histeria é uma doença ou é um modo, acessível praticamente a todos, de expressar seu Inconsciente?”
Hoje em dia, os sintomas mais freqüentes são: as dores reumáticas, as cefaléias e outras algias, sintomas cuja organicidade é difícil contestar. Entre os distúrbios psíquicos estão os quadros depressivos, as dificuldades de relacionamento interpessoal, as fobias e as crises de ansiedade. Na área sexual, temos a frigidez na mulher, a impotência e a ejaculação precoce no homem.
O termo designa “aquilo que se representa, o que forma o conteúdo concreto de um ato de pensamento” e em especial a reprodução de uma percepção anterior”.
Termo que exprime qualquer estado afetivo, penoso ou agradável, vago ou qualificado, quer se apresente como uma descarga maciça (crises de raiva, choro, riso, englobadas sob o epíteto: crises de nervos), quer como uma tonalidade geral (humor deprimido, estado de ânimo triste ou alegre).
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